sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Um poema de Natália

Natália Correia nasceu a 13 de setembro de 1923 na ilha açoriana de S. Miguel. Faria hoje 90 anos se a sua vida terrena não tivesse findado a 16 de março de 1993, em Lisboa. Personalidade intelectual versátil, destacou-se sobretudo na literatura e na política. Hoje partilho convosco um dos seus poemas, aquele que nestes tempos conturbados me parece hoje o mais adequado:   Ode à Paz  

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
                               deixa passar a Vida!


[Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"]


Bom fim de semana!

Sem comentários: