quarta-feira, 6 de abril de 2016

(Ainda o ) "E se fosse eu?"

A propósito do desafio lançado aos nossos estudantes -de que falei no post anterior- e do tipo de acolhimento dado (ou não) aos refugiados, há sempre quem venha lembrar que também Portugal está em crise, que também por cá há muitos problemas por resolver (violência, fome, desemprego...), que muitos portugueses tiveram de emigrar, que devia ser dada primazia os "nossos"...
Confesso que, respeitando a opinião a que cada um tem direito, são observações que me deixam triste e preocupada. 
Felizmente nunca vivi nenhuma das dificuldades que citei acima. Tenho família emigrada -isso, tenho- como praticamente todos os portugueses. A emigração é uma realidade em Portugal, desde meados do século passado, pelo menos. Não é uma realidade dos últimos anos, apenas e só fruto desta crise recente ou da falta de emprego para quem tem habilitações superiores (ou falta de habilitações).

Agora o que me deixa triste e preocupada é as pessoas não conseguirem ver a diferença entre vivermos num país que tem problemas -é certo- e vive uma crise (mais ou menos temporária) que nos afeta a todos de alguma forma (a uns mais que a outros), em que "temos de apertar o cinto", em que perdemos "qualidade de vida" e "poder de compra"  mas em que, ainda assim, podemos andar na rua à vontade, com relativa segurança, e a maioria tem acesso a saúde, educação, casa e alimentação...não conseguir distinguir esta realidade  -de um país em crise- da de um país em guerra, em que sistematicamente as pessoas estão sujeitas a bombardeamentos, saques, violações...destruição massiva das terras que os viram nascer, das casas onde habitam, das famílias que constituíram! 

Por mais que queira, também não consigo comparar esta realidade à da emigração. E não estou com isso a desvalorizar o sofrimento de quem emigra. Simplesmente não me parece comparável!Quem emigra, por norma, tem sempre onde e a quem regressar. Fá-lo para melhorar de vida...não para fugir à morte! Quem foge de guerras como a da Síria, pura e simplesmente, volta à estaca zero da vida. 

Parece-me mais aceitável que possa haver uma comparação a quem -na década de 70- teve de fugir das colónias portuguesas em África e deixar praticamente tudo o que tinha por lá. Bem sei que muitos apenas conheciam Portugal de algumas férias passadas por cá -em casa de familiares- e tiveram de refazer as suas vidas num país muito diferente daquele a que estavam habituados. 
Ainda assim, não era propriamente um país estranho: para muitos, foi o retorno à terra que os vira nascer; para outros, a uma terra que - não sendo a sua- era a de  familiares que os puderam  (uns mais, outros menos) acolher.  
Era a chegada (ou o retorno) a um país que no BI lhes conferia uma nacionalidade, em que se falava a mesma língua e com o qual havia alguma identidade. 

Os refugiados de que falamos agora são pessoas que, efetivamente, perderam quase tudo e já viveram violências inimagináveis para a maioria de nós.  Obviamente não serão todos boas pessoas! Infelizmente não serão todos gratos a quem os acolher! Tristemente, alguns nunca conseguirão refazer as suas vidas, mesmo que lhes sejam dadas oportunidades. Imagino que seja o caso dos pais desta bebé, só para dar um exemplo. E, já agora, se ainda tiverem paciência, leiam o que  escreveu  a Sónia Morais Santos sobre isto e sobre o facto de "sujeitarmos" as nossas crianças a estes exercícios de empatia com os outros.

Dizer ainda que, refugiados sempre houve. Não é um realidade de 2015/16. A diferença é que agora não estão longe...estão a bater à nossa porta: à porta de uma Europa envelhecida, em crise económica e identitária, que, sem conseguir arrumar a casa, vê-a invadida! É aceitável alguma dificuldade em lidar com a situação, até porque é realmente uma realidade complexa a todos os níveis.  Mas ignorá-la não será nunca solução!

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