sábado, 11 de abril de 2020

Rezar a um Deus que dança! XIV

E hoje um último capítulo retirado de "Rezar a vida", precisamente intitulada "Sábado Santo"...

"Ao longo dos últimos anos tenho vindo a ganhar mais respeito ao dia de 
Sábado Santo.
É certo que sabemos o final da história: 
a ressurreição. No entanto, tudo pode tornar-se demasiado artificial se apenas se celebra ou vive como cumprimento litúrgico. 
Este dia é igualmente demasiado forte: fala-nos do vazio, do sem-chão, do luto. Mistura-se a desilusão, a ingratidão, onde possivelmente pode ter despontado a raiva  e o ódio nos próprios discípulos: "porque o segui'"; "de nada serviu deixar tudo"; "ele enganou-me". 
Também as memórias dos olhares, dos gestos, das palavras com autoridade de quem sempre quis a vida do outro. 

Se os outros dias têm símbolos como o lava-pés ou a cruz, este nada tem a não ser o silêncio entre o desespero e a esperança de algo novo. 
É um dia mais que racional, emocional. 
Daí ser preciso estar atento aos "sábados santos" da vida. 

Facilmente se pode cair na resignação. Encolhem-se os ombros e, anulando-se mais um pouco,o ser segue a vidinha. Contudo, a esperança da fé convida-nos a integrar os acontecimentos, por mais duros que sejam. Não é fácil, roçando o quase impossível por vezes. 

Nos textos evangélicos, em dois vemos o despontar do que significa esta confusão de sentir. 
Em S. Lucas, os discípulos de Emaús regressam desesperados. 
Em S. João, Maria Madalena chora o desespero. 
Em ambos,o Ressuscitado aparece sem que o reconheçam  imediatamente. Pede-lhes para recontarem os acontecimentos. Hoje é o dia de luto. 
Nos dias de luto estamos com o Ressuscitado, mesmo que não o sintamos. 

Sábado Santo: convite a enfrentar o sentir diante da brutalidade dos  acontecimentos. 

Teologicamente falando, Jesus atravessa a mansão dos mortos, integrando em si a Vida."


PS_ Quem gostou das reflexões retiradas de "Rezar a vida" do Pe. Paulo Duarte, pode continuar a acompanhá-lo pela sua 
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