E este texto podia ser sobre a liturgia desta semana, tão rica de momentos e de sinais.
Mas não...este texto é sobre as muitas recordações que esta semana evoca em mim (preparem-se para um texto longo) ...
Quem me conhece bem, sabe que sou nostálgica por natureza e o post de hoje é acima de tudo isso...um desabafo cheio de saudades...de momentos, de pessoas, memória de um tempo vivido!
Começar por dizer que o que fez nascer esta partilha foi o direto que ontem o Grupo de teatro "O Nazareno" de Peniche fez na sua página.
Para quem não conhece, este grupo foi criado a 17 de Outubro de 1998, com o
objetivo de representar a célebre obra de Frei Hermano da Câmara com o
mesmo nome.
Fiz parte do grupo nos primeiros anos e ainda participei em várias Via-Sacras que encenou nas ruas de Peniche em anos subsequentes. Fiz de povo, de discípulo, de mulher de Jerusalém, de samaritana, de narradora...
O disco duplo "O Nazareno" -uma
obra musical inspirada no Evangelho, que contou com a colaboração de vários
poetas portugueses, com a participação do Coro e Orquestra Gulbenkian e com as
interpretações de Amália Rodrigues (Madalena), Mara Abrantes (samaritana),
Carlos Quintas (anjo), António Pinto Basto (noivo), Teresa Siqueira (noiva) e Vítor
de Sousa (narrador) - entre outros- foi
editado pela Valentim de Carvalho em 1978.
Em 1986, o espectáculo musical, baseado no disco, foi apresentado ao vivo no Coliseu
dos Recreios, com encenação de Carlos Avilez, e eu -que tinha 11 anos na altura- tive a oportunidade de assistir.
Mas já antes conhecia alguns dos temas porque, amiúde, serviam de banda sonora aos teatros da catequese que, na altura, eram tradicionalmente ensaiados na Paróquia de Peniche por ocasião da Páscoa e do Natal. Participei em muitos desses teatros onde, para além dos papéis que mencionei acima, ainda fiz de Nossa Senhora, de Madalena e tantas outras personagens, bíblicas e não só.
Por tudo isto, e mais alguma coisa, não admira que saiba "O Nazareno" de cor, do princípio ao fim!
Mas se há faixa musical desse álbum que mexe comigo até hoje é a intitulada
Hoje seria tempo de ouvi-la mais uma vez, no final da Procissão do Senhor dos Passos, que hoje percorreria as ruas de Peniche entre a Igreja de S. Pedro e a Capela do Senhor do Calvário, não fosse o estado de emergência que vivemos (e a chuva que copiosamente cai nesta tarde)...faz parte da tradição desta procissão.
Mil e uma vezes repetida mas sempre com a capacidade de nos arrepiar até à medula (sobretudo quanto o coro entoa "Deus Santo, Deus Forte, Deus imortal...")
Mil e uma vezes repetida mas sempre a melhor das homilias possíveis neste momento em que se evoca o Calvário de Jesus! É impossível ficar indiferente quando Jesus diz
"Tudo está consumado!" e se ouve a melodia triste dos instrumentos misturada com a ira dos elementos...o vento, a trovoada...
"Tudo está consumado!" e se ouve a melodia triste dos instrumentos misturada com a ira dos elementos...o vento, a trovoada...
A trovoada...que me recorda sempre a D. Amália agitando uma enorme folha de zinco (para fazer o efeito de trovoada) no fosso que havia entre o palco e a plateia no velhinho Auditório do Stella Maris :)
A Procissão do Senhor dos Passos seria o primeiro momento de uma semana sempre especial para todos os cristãos mas, atrevo-me a dizer, ainda mais marcante para quem está de serviço nas cerimónias próprias deste tempo litúrgico.
(entre os 9 e os 37 anos).
Acólita numa fase em que a Associação de Acólitos era fortemente
solicitada e participante.
Impossível de esquecer, para quem viveu esse tempo, as idas à Sé em Quinta-feira Santa, os ensaios e as cerimónias de todo o Tríduo Pascal, tantas vivências e ensinamentos, sobretudo desse grande mestre chamado Manuel Bastos Rodrigues de Sousa, o nosso "Sr. Prior".
Era uma semana exigente, cansativa às vezes, mas não tenho dúvidas que sempre especial!
E também não tenho dúvidas que muito daquilo que vivemos e aprendemos nessa altura permanece nos corações e na memória daqueles que o viveram!
Que seja uma SEMANA verdadeiramente SANTA para todos!
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