quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Congresso Rede Cultura 2027 (só mais uns apontamentos...)

Na semana passada falei apenas do que ouvi no primeiro dia do Congresso...é que, no sábado, não fiz os meus apontamentos, o que dificultou o resumo. Talvez por achá-lo merecido, aqui estou, tentando registar algumas ideias que me ficaram das intervenções desse segundo dia.


João Bonifácio Serra, Presidente do Conselho Estratégico da Rede Cultura 2027 fez uma resenha do que foi o Congresso. De alguma forma, um teste em várias frentes a esta Rede Cultura. Realçou o facto das redes "não serem apenas instrumentos de comunicação,  mas também espaços de criação e diálogo entre as diversas comunidades." 

Defendeu ainda que "o mandato desta Rede não é trazer multidões que se atropelem, mas reforçar a generosa hospitalidade de quem partilha o que tem e escuta quem chega". Ou seja: a promoção da Identidade Cultural da Região e das suas dinâmicas interculturais, na continuidade e com a comunidade...em detrimento de um programa excecional mas pontual e efémero. Terminou a sua intervenção dizendo "O Congresso acabou. O Congresso continua", acentuando a dialógica e a continuidade de todo este processo. 

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Já o escritor Gonçalo M. Tavares peregrinou pelos 26 concelhos que compõem a Rede. Podem ver o resultado aqui .  No culminar desta peregrinação, da sua intervenção em palco ficou-me essencialmente a importância que tem a narrativa oral e a recolha e divulgação destes pedaços significantes da memória coletiva, da sabedoria popular...da "Voz" da comunidade. 

 Dele retive ainda duas pequenas histórias:

-a de uma personagem tão vesga que à 4ª feira olhava ao mesmo tempo para os dois domingos, ou seja: para o Passado e para o Futuro, para aquilo que queremos viver (projeto) mas também para aquilo que recordamos (memória)...ainda que, sempre, de pés assentes num Presente (aqui representado pela 4ª feira)!;

- a de dois comboios que seguiam em linhas paralelas mas com direções distintas e pararam na mesma estação. À janela de um estava um homem, numa janela do outro estava uma mulher. E o olhar que trocaram foi tão forte que quando os comboios arrancaram, fizeram-no na mesma direção! Esta pequena história recorda-nos essencialmente o seguinte: que o importante continua a ser a presença humana e o olhar humano! 

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"Esta arte inquieta: o princípio da inclusão cultural" foi o tema do último orador do dia: François Matarasso, artista da comunidade, escritor e investigador.

Com uma vasta experiência em projetos de Arte Participativa e Comunitária, definiu este conceito  de arte da seguinte maneira: a criação de arte, como um direito humano, por artistas profissionais e não-profissionais, cooperando para obter o nível  e os propósitos artísticos que definiram conjuntamente, e cujo processo, produto e resultados não podem ser conhecidos de antemão.

Não confundir com educação artística nem tão pouco com terapia artística. Aqui o objetivo é criar uma obra de arte partindo da interação entre o artista que é profissional e as pessoas da comunidade, que ele nomeia igualmente artistas, por efetivamente serem criadores (com trabalho, opiniões, decisões...) e não meros participantes num projeto que outros definiram

Esta interação traz diferentes recursos ao ato de fazer arte, com que todos ficam a ganhar...essa é uma das suas mais-valias.  Dando vários exemplos concretos, realçou a forma como esta arte participativa/comunitária potencia a empatia, a inclusão, a valorização das pessoas e da comunidade no seu todo. 

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O Congresso terminou com um concerto da Orquestra Sinfónica de Thomar, a que apenas assisti online. 

Quem estiver a  ler estas linhas poderá ainda recordar este dia aqui, na página FB da Rede Cultura 2027.

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