Hoje regressei ao trabalho depois de duas semanas de férias. E uma das coisas que o meu trabalho tem de bom é permitir-me ler textos bonitos como este de Mariano Calado com que dei de caras numa pesquisa que tive de fazer.
Chama-se Quando e, apesar de ter sido publicado in Raízes de Maresia há 25 anos, continua
(in)felizmente atual e pertinente nestes tempos estranhos que vivemos...
É também essa a beleza da poesia: a sua
intemporalidade e a forma como, em poucos versos, nos pode falar de tanta
coisa...de fome e doença, de empatia e solidariedade, de egoísmo e partilha, de
dúvidas e certezas, de ódio e de amor!
"Quando um pedaço de céu chegar pra cada
um
e todos nós pudermos ter os astros;
quando um pedaço de pão chegar pra cada um
e todos nós pudermos ter seara;
quando o calor do sol sorrir em cada olhar
e cada um tiver estrelas pra brincar;
quando as armas de morte forem feitas abraços
e, de cada prisão, puder fazer-se um beijo;
quando todos, serenos, formos todos num só
sem deixarmos de ser, em todos, cada um;
quando soubermos sentir, nos outros, quem nós
somos,
sendo, nós mesmos, onde os outros são;
- as sombras serão luz,
a nuvem sol,
a guerra será pão,
o ódio amor,
as dúvidas certezas,
erros, nossos desejos fundos de verdade,
distâncias, nossa vontade forte de ser perto."
PS- A ilustração é uma pintura de Hessam Abrishami, pintor que também
descobri recentemente.
Sem comentários:
Enviar um comentário