segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Quando

Hoje regressei ao trabalho depois de duas semanas de férias. E uma das coisas que o meu trabalho tem de bom é permitir-me ler textos bonitos como este de Mariano Calado com que dei de caras  numa pesquisa que tive de fazer. 
Chama-se Quando e, apesar de ter sido publicado in Raízes de Maresia há 25 anos, continua (in)felizmente atual e pertinente nestes tempos estranhos que vivemos...
É também essa a beleza da poesia: a sua intemporalidade e a forma como, em poucos versos, nos pode falar de tanta coisa...de fome e doença, de empatia e solidariedade, de egoísmo e partilha, de dúvidas e certezas, de ódio e de amor!

"Quando um pedaço de céu chegar pra cada um 
e todos nós pudermos ter os astros;
quando um pedaço de pão chegar pra cada um
e todos nós pudermos ter seara;
quando o calor do sol sorrir em cada olhar 
e cada um tiver estrelas pra brincar;
quando as armas de morte forem feitas abraços
e, de cada prisão, puder fazer-se um beijo;
quando todos, serenos, formos todos num só
sem deixarmos de ser, em todos, cada um; 
quando soubermos sentir, nos outros, quem nós somos, 
sendo, nós mesmos, onde os outros são;
- as sombras serão luz,
a nuvem sol, 
a guerra será pão,
o ódio amor, 
as dúvidas certezas,
erros, nossos desejos fundos de verdade,
distâncias, nossa vontade forte de ser perto."

PS- A ilustração é uma pintura de Hessam Abrishami, pintor que também descobri recentemente.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXLI

Numa das páginas sobre Maria Bethânia, que sigo no FB, assinalaram anteontem o aniversário de Clara Nunes.
Curiosa, fui ver de quem se tratava - achando que não conhecia- e percebi que, nascida em 1942 no estado de Minas Gerais, Clara tinha morrido aos 40 anos de idade, fruto de complicações surgidas numa cirurgia. 
Percebi também que tinha sido um das grandes vozes do Brasil (e que ainda hoje é bastante apreciada) e que, afinal, a sua voz era-me familiar...é ela que canta este Morena de Angola!

Neste fim de semana, que marca o meio de agosto, deixo-vos com um medley das suas músicas...daquelas que nos ficam no ouvido e nos dão vontade de dançar!


BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS E BOAS FÉRIAS!
(para quem está, ou vai de férias por estes dias...como é o meu caso!)

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXL

Ainda recentemente destaquei aqui uma interpretação de Cuca Roseta e uma outra de Luís Represas, ainda como vocalista do TROVANTE. *

Ambos são músicos que aprecio -e sigo- e na minha sugestão de hoje estão juntos em palco - acompanhados pela Orquestra Sinfónica Ibérica -   para interpretar este 
 "Nos teus braços", da autoria dela
...e é mesmo muito bom de ouvir! 


* Já agora um alerta: o próximo Alta Fidelidade (sábado, 15 de agosto, na RTP1 às 22h30) é sobre o TROVANTE.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXXXIX

Que Jorge Palma é um dos meus artistas portugueses preferidos não é segredo! Por isso foi com redobrado prazer que assisti ao Alta Fidelidade de sábado passado. 

Foi uma viagem pela sua carreira, com destaque para o álbum (1991) de que fazem parte algumas das suas músicas mais emblemáticas como "O meu amor existe", "Só", "Frágil", "Bairro do Amor", "A gente vai continuar" ou este... "Estrela do mar"!


sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Um dia de cada vez...

No dia 22 de julho fiz uma publicação sobre uma música escrita por Pedro Abrunhosa durante o confinamento e prometi voltar a falar de coisas bonitas que "nasceram" neste tempo de pandemia e isolamento social. 

Uma dessas coisas foi uma página de facebook chamada  UM DIA DE CADA VEZ – Sugestões, ideias e instruções para quem está fechado em casa. 

Nos primeiros dias da quarentena como forma de combater a inércia criativa, o isolamento social e o pessimismo geral - segundo os próprios- o escritor David Machado e o ilustrador Paulo Galindro propuseram-se "apresentar, todos os dias, uma sugestão de algo para fazer em casa. Ideias sempre mais próximas da poesia do que da realidade tal como a conhecemos".


E assim fizeram: foram 32 sugestões, que ganharam voz até noutras línguas, e que entretanto ganharam corpo em formato livro

Com uma campanha de crowdfunding que angariou no primeiro dia a verba necessária para a edição de 500 exemplares, os autores abalançaram-se a mais este desafio e o resultado começou a chegar esta semana às caixas de correio de todos os que apoiaram este projeto - eu incluída-  encantados pela beleza das palavras e pela maravilha e pormenor das ilustrações. 
 
Pelo  meio, a generosidade destes criativos passou também pela partilha de todo o processo de feitura do livro, que pudemos acompanhar aqui
 
Para mim, ontem foi o grande dia: ao abrir a caixa do correio lá estava o tão desejado envelope...E é tão bom ter no correio algo mais que contas para pagar ou folhetos publicitários!
 
O toque e o cheiro de um livro novo são uma delícia...e quando tem páginas lindas como este, melhor ainda :) 
 
Ficará como memória destes dias estranhos que vivemos para nos recordar que, mesmo assim, há sempre poesia nos dias...só há que viver um dia de cada vez!

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Beirute...e uma canção

"Em Beirute
Nem o sol nasce
Em Beirute
Como merece
É mais quente que o ar do deserto
É mais escuro que um buraco aberto
Na memória de uma terra ainda morna
Que já não torna
A ser Beirute!"
(Luís Represas/Manuel Faria)

As explosões em Beirute são mais uma triste notícia a marcar este ano...

Curiosamente a primeira coisa que me ocorreu quando ouvi as notícias - para além da tristeza por mais este acontecimento fatídico - foi uma canção: chama-se precisamente Beirute e foi lançada há 30 anos atrás pelo Trovante. A música integrava o oitavo álbum de estúdio da banda, intitulado Um Destes Dias que ainda guardo em formato cassete lá por casa!!!

Em 1990 o Trovante cantava Beirute por motivos igualmente infelizes: a capital do Líbano era o símbolo de um país devastado por uma guerra civil que durou 15 anos, tendo culminado nesse ano. 
Tristemente, pouco mudou de há 30 anos a esta parte e, à semelhança da maioria dos países do Médio Oriente, o Líbano- que faz fronteira com a Síria (a norte e leste), com Israel (a sul) e com o Mar Mediterrâneo (a oeste)- ainda não conseguiu viver verdadeiramente em paz. E agora isto...

Ouvida em 2020, a canção ainda "pesa" e parece até algo premonitória...

Coincidentemente, foi num dia 4 de agosto (1976) que o Trovante foi fundado...o coletivo, liderado por Luís Represas, assinalou a quarta capicua da sua história no dia em que Beirute ardeu!

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXXXVIII

De facto,  a sua música tem atravessado gerações e pretende-se que continue a ser ouvida e conhecida no futuro. 

Hoje a minha escolha musical é precisamente de um dos seus temas mais cantados e mais bonitos, aqui interpretado por Cuca Roseta, acompanhada com piano, guitarra portuguesa e quarteto de cordas. Traz outro amigo também é o convite...


terça-feira, 4 de agosto de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXXXVII

Ana Moura e António Zambujo são dois intérpretes que muito aprecio!
Ambos com raízes no fado, têm facilidade em divergir para outros géneros musicais, mantendo um estilo inconfundível...a voz rouca dela, o timbre singular dele são apenas "a ponta do icebergue" na identidade artística destes dois que, ainda por cima, têm entre eles uma cumplicidade maravilhosa e bonita de se ver.

A minha escolha de hoje é uma música do reportório dele, aqui  interpretada por ela, num concerto que os juntou em março de 2014 nos Coliseus. E como se não bastasse tudo aquilo que já disse, neste caso concreto ainda têm a sorte de serem acompanhados por um naipe de músicos virtuosos, apesar da sua juventude, de que se destaca - na guitarra portuguesa- Ângelo Freire.

Fiquem com este Flagrante, um poema delicioso de Maria do Rosário Pedreira musicado por António Zambujo e aqui interpretado por Ana Moura.