O site Cultura X publicou há cerca de um mês - sob o título "Não matem o Português!" – 15 erros que parecem de putos da primária - um artigo sobre os 15 erros mais recorrentes no português falado e, sobretudo, escrito.
Como este é um daqueles assuntos que me diz muito, aqui ficam as dicas (escritas até com alguma graça), fazendo votos para que, pelo menos os que o lerem, não voltem a asneirar... e a nossa língua seja respeitada como merece!
1. Hades
“Hades cá vir bater à porta! Hades,
hades”! Não, não hades. Porquê? Porque Hades é um deus da mitologia
grega, o deus dos mortos, e nada mais do que isso. A forma correcta
desta expressão é ‘hás-de‘, que deriva do verbo haver (como
podes verificar nos diapositivos seguintes, este verbo safado é
causador de muita confusão desnecessária). A expressão ‘hadem’ também
não significa o mesmo que hão-de, e essa nem sequer é um deus grego. É só mesmo uma palavra inventada e feia.
2. Trás/Traz
A cada dia que passa, lá vemos um
pontapé nestas duas palavras que nada têm que ver uma com a outra. Façam
lá o favor de aprender: ‘trás’ é o contrário de ‘frente’ e ‘traz’ é uma
conjugação do verbotrazer,
na 3ª pessoa do singular. Não podem confundir, porque estão tão
relacionadas uma com a outra como a Manuela Moura Guedes está
relacionada com o avião desaparecido da Malaysia Airlines.
“Traz-os-Montes”? Não! Ninguém traz os montes! “Ele trás o carro” também
não está minimamente correcto.
3. Morto, morrido, matado
Apesar de aparecer muito frequentemente na internet e até na televisão (é triste, mas é verdade), a expressão “depois de ter morto a
mulher” está completamente errada! Morto é a condição de não estar
vivo, simplesmente. Ponto final, não há outro uso para esta palavra. O
que se deve dizer é “depois de ter matado a
mulher”, que, apesar de ser feio e de até soar ligeiramente mal, está
mais do que correcto! Portanto parem de dizer “ter morto”. Quem está
morto é o Português, por causa deste tipo de coisa. O mesmo se aplica a
outros verbos, como, por exemplo “ter limpo”/”ter limpado”.
4. Crer/querer
Nós cremos que não fazem por mal,
mas queremos fazer o reparo na mesma. Há por aí muita gente que, infeliz
e injustificadamente, não sabe a diferença entre os verbos querer e crer. Pois o Cultura X está cá para explicar: crer é
o mesmo que acreditar, e não é, de todo, sinónimo de querer. Ok? Como
sabes, dizer “eu creio” não é a mesma coisa que dizer “eu quero”. “Ó
mãe, eu hoje creio comer hambúrguer” não faz sentido, pois não? Então
não confundas estes dois verbos, para o bem de todos nós.
5. Mais bem, mais bom
E esta? Ui, menino! É certo que, em
algumas situações, “mais bem” ou “mais bom” devem ser substituídos por
“melhor”. NO ENTANTO, isto nem sempre acontece! Dizer coisas como “isto
está melhor escrito” é tão errado como piratear e publicar fotos
privadas das celebridades. A expressão correcta é – e sempre será –
“isto está mais bem escrito”! Pode ser?
6. Hífenes
Todos
os dias passamos pelo Facebook e vemos um monte de palavras nas quais
tu colocas-te um hífen onde não o havia. Já agora, não reparaste em
nenhum erro na frase anterior? Então foste mesmo tu, seu/sua
delinquente!
Por favor, não confundam ‘passas-te’ com ‘passaste’, ‘colocas-te’ com ‘colocaste’ e muito menos ‘passamos’ com ‘passa-mos’.
‘Colocaste’
está no Pretérito Perfeito e o equivalente na 1° pessoa é ‘coloquei”.
‘Colocas-te’ está no Presente do Indicativo e o equivalente na 1° pessoa
será ‘coloco-me’. Já de ‘passamos’ para ‘passa-mos’, altera-se o modo, o
tempo, e até a pessoa!
Este é o erro mais comum na net, o mais absurdo, o mais horrível, e o que mais vontade dá de pontapear o ecrã do computador.
Tirar hífenes de onde deviam estar, fazendo o processo oposto, é um atentado igualmente grande.
7. Há / à / á
Não há aqui nada que enganar (ou, pelo menos, não era suposto haver). O primeiro é uma conjugação do verbo haver, o segundo é uma contracção e o terceiro é estúpido.
Quando dizemos “Já vi esse filme há uma semana”, estamos a dizer que já passou uma semana desde que vimos o filme, utilizando o verbo haver para o efeito. Dizer “à uma semana” é ridículo, pois o à é simplesmente uma contracção da preposição a com o artigo definido/pronome demonstrativo femininoa, e usa-se apenas em frases como “amanhã vou à praia”. A terceira opção, o á, é apenas estupidez, porque nem sequer existe como palavra, isolado.
Entendido? “Não vou há praia à uma semana” está, portanto, completamente errado.
8. Ç
Por vezes, vemos pessoas a escrever frases inspiradoras no Facebook, ou
mesmo a partilhar imagens com frases que já têm centenas de partilhas, e
aparece, lá no meio, uma “palavra” bela: “Voçê”. É um dos grandes
problemas dos jovens, apesar de todos terem sido ensinados em condições
no primeiro ou segundo ano de escolaridade.
A regra é a seguinte: um C lê-se sempre como um Q, excepto quando se encontra antes de um e ou de um i, casos em que se lê como “ss”. Ou seja, sempre que vem antes de um e ou de um i, nunca leva cedilha! NUNCA. Portanto, chega de “voçês”, chega de “apareçe” e de coisas semelhantes.
9. Assério
Algumas pessoas decidiram pegar na
expressão “a sério” e fundir as duas palavras, formando a magnífica
palavra “assério”, ou mesmo, em casos mais extremos, “acério”, ou
“asério”, que nem sequer se lê da mesma maneira (estamos a contar o
tempo até começarem a escrever “açério”). Aparece várias vezes nas redes
sociais e não fazemos ideia de onde foram desencantar isto. Fomos
verificar e, no teclado do computador, a letra S nem sequer está próxima
da barra de espaços, pelo que não pode ser um erro de tipografia. Por
favor parem com isso. De cada vez que o fazem, morre um panda na China.
Assério!
10. Concerteza
Mais duas palavras unidas, mais um pobre panda morto. Pouco há para dizer também acerca desta palavra, mas com certeza que
está errada. A expressão correcta é como acabámos de a escrever, com
duas palavras separadas, pelo que “concerteza” é apenas obra do demónio.
11. Já mais
Só para que não digamos que só andam
aí a fundir palavras à toa, o pessoal presenteia-nos com esta relíquia,
que é precisamente o oposto. Decidiram, então, pegar na palavra
‘jamais’ e separá-la em duas, que por acaso existem mas não cabem onde
as tentam meter. Ouçam: quando querem dizer que nunca, nunca irão fazer
determinada coisa, escrevam “jamais”, tudo junto. “Já mais” só pode ser
utilizado em frases como “já mais tarde, fui ler o Cultura X”, ou algo
do género.
12. Vez/vês
A confusão entre estas duas palavras
também é ligeiramente carcinogénica. “Também vez
a Guerra dos Tronos?” e
“Só vi uma vês” são duas frases que, portanto, não têm jeito
absolutamente nenhum. ‘Vês’ é uma conjugação do verbo ver e ‘vez’ é o singular de ‘vezes’. Não são a mesma coisa, nem de longe nem de perto.
13. Não tem nada haver
O verbo haver é,
como já vimos, causa de muita confusão na cabeça de quem não é muito
bom nesta coisa da escrita. “Não tens nada haver com isso!”, dizem eles,
mas nós temos que intervir, para impedir um severo apocalipse
linguístico. Gente, a expressão escreve-se “não tens nada a ver com
isso”, caso queiram usar essa forma, que, apesar de ser um galicismo,
está correcta. Ainda assim, será melhor dizer “Não tens nada que ver com isso”! E sim, nós, enquanto cidadãos preocupados com a saúde de quem lê aquilo que escrevem, temos muito “haver” com isso.
14. Poder/puder
Aparentemente, existe por aí uma
enorme dificuldade em entender a diferença entre estas duas palavras mas
o Cultura X, como vosso amigo que é, vai explicar: puder lê-se “pudér” e poder lê-se
“podêr”. Isto, sozinho, já deve ser suficientemente explicativo mas,
como mais vale prevenir do que remediar, explicamos ainda mais: deve-se
usar o ‘puder’ apenas em frases como “se eu puder ir”, sendo ‘poder’ a palavra adequada em todas as outras situações, incluindo “não devo poder ir”.
15. Vírgulas
Não, desta vez a palavra não está
mal escrita. Queremos só dar um pequeno reparo nas vírgulas
horrivelmente colocadas. Nunca, nunca, “já mais” se separa o sujeito do
predicado de uma frase com uma vírgula (ex.: a minha mãe, foi ao
supermercado) e também não se colocam os atributos das palavras entre
vírgulas (ex.: a sua, belíssima, mulher). Pode ser?