sexta-feira, 25 de março de 2011

O Pátio dos Gentios


Hoje falo de uma iniciativa do Vaticano, que visa relançar o diálogo com os não crentes. A ideia partiu do Papa Bento XVI, com base nas seguintes questões: “Se existem estruturas do Vaticano para o diálogo com outras religiões, por que não criar uma ponte com os que estão fora, que têm nostalgia ou dúvidas sobre Deus? Porque não dar espaço aos que andam nas margens da Igreja ou encaram Deus como um desconhecido?”
O 1º encontro desta iniciativa teve início ontem em Paris (nalguns dos locais mais emblemáticos da cidade: UNESCO, Sorbonne, Academia Francesa, Colégio dos Bernardinos e Catedral de Notre Dame) e prevê um rol de intervenções variado, que inclui filósofos,diplomatas, homens e mulheres de cultura de diferentes países.
A propósito desta iniciativa, Tolentino Mendonça, o padre-poeta,  escreveu ontem na Página 1 da RR este artigo:
"Precisamente neste final de Março, a Igreja Católica escolhe dois lugares representativos da cultura
europeia, Bolonha e Paris, para lançar um projecto que procura aproximar crentes e não crentes, convidando-os a substituir o confronto pelo diálogo, e que tem a assinatura clara de Bento XVI e do seu colaborador para a cultura, o Cardeal Gianfranco Ravasi. Antes de tudo, perguntar pelo nome escolhido para esta iniciativa: por que se foi recuperar uma designação que hoje não repetimos sem estranheza? Sem dúvida, pela forte inspiração simbólica. O “Átrio dos Gentios” era uma das partes constitutivas do Templo de Jerusalém. O interior do Templo, propriamente dito, organizava-se em três zonas: uma para o povo de Israel,uma para os Sacerdotes, e em seguida o Santo dos Santos. Mas entre este espaço interior e o muro externo, existia um átrio delimitado por colunas, que podia ser frequentado por não-israelitas. Era uma zona de silêncio (isto é, não votada ao comércio ou à curiosidade dos turistas de então, mas propícia às indagações profundas), onde alguns mestres judaicos se disponibilizavam para conversar sobre Deus e sobre a Torah com os estrangeiros que o desejassem.Na apresentação entusiamada que faz do projecto, o Cardeal Ravasi diz que este se destina a construir «uma gramática nova», onde vencidas, de parte a parte, «tanto as apologéticas ferozes como as dessacralizações devastadoras», se possam revelar e mutuamente se ouvir «as razões profundas da esperança do crente e da espera do agnóstico». É, portanto, uma estação de diálogo que a Igreja quer estimular,deixando para trás a lógica do confronto ou o gelo da indiferença.De facto, Deus é uma questão para todos, crentes e não-crentes. E perante essa questão, o próprio caminho dos crentes é chamado a integrar a pergunta,a dúvida, a opacidade. Tal como um caminho não-crente, em tantos momentos e de formas indizíveis, é chamado a tocar o divino de Deus. Por isso, o sentido deste “Átrio dos Gentios”, que vai correr várias cidades do mundo (já estão programadas Florença, Tirana, Estocolmo, Berlim, Moscovo, Washington, entre outras), pode ser resumido num desafio: «busquemos conjuntamente»."

Sobre este mesmo assunto escreveu Frei Bento Domingues no PÚBLICO. O artigo, que pode ser lido aqui, vê esta iniciativa de uma outra forma, não menos pertinente, lançando um desafio concreto no final. Vale a pena ler...

Sem comentários: