quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Quem me quiser...

"Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente."

Este poema é de Rosa Lobato de Faria, escritora (entre outras coisas) que nos deixou no passado dia 2, aos 77 anos de idade. Porque gostava da forma como Rosa escrevia, e não só da sua poesia como da sua prosa, aqui fica esta pequena homenagem.  

1 comentário:

maria disse...

Bem hajas pela sensibilidade que colocas naquilo que escreves.
maria