terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fala do Homem Nascido

Caso ainda fosse vivo, faria hoje 103 anos um dos maiores poetas portugueses, pelo menos para mim.
Falo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, mais conhecido como ANTÓNIO GEDEÃO. Não passou a barreira dos 100 anos mas passou a dos 90, tendo deixado este mundo a 19 de Fevereiro de 1997. Quanto aos seus poemas, esses, permanecem! E hoje, aqui fica mais um -Fala do Homem Nascido - neste blogue assumidamente fã da poesia do cientista-poeta:

"Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.

Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.

Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar."

1 comentário:

estrela disse...

Lindo poema!!!
Já algumas vezes cantado...mas sempre lindo...Obrigada... mais um maravilhoso poema guardado na minha pasta de poemas.