terça-feira, 31 de março de 2009

Caderno II

Ainda não tinha deixado aqui nenhum poema de Sophia de Mello Breyner Andresen. Hoje fui buscar este Caderno II...

Quando me perco de novo neste antigo
Caderno de capa preta de oleado
Que um dia rasguei com fúria e desespero
E que um amigo recolou com amor e paciência,

De novo se ergue em minha frente a clara
Parede cal do quarto matinal
Virado para o mar e onde o poente
Se afogueava denso e transparente
E a sonâmbula noite se azulava.

Ali o tempo vivido foi tão vivo
Que sempre à própria morte sobrevive
E cada dia julgo que regressa
Seu esplendor de fruto e de promessa.

Sem comentários: