segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Testamento

No Sábado fui até Óbidos ver e, sobretudo, ouvir as Conversas de Camarim que anunciei aqui. Gostei muito...da Simone, do Vítor, do Nuno ao piano, das memórias, das músicas e dos poemas que fazem daquele camarim um espaço mágico. Entre outros belíssimos textos ditos por Vítor de Sousa, marcou-me este TESTAMENTO, da poetisa angolana Alda Lara, que hoje vos deixo aqui :

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora,

Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...

Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

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