terça-feira, 31 de março de 2020

Rezar a um Deus que dança! (III)

Hoje trago-vos um trecho do capítulo "Os nós e os laços familiares" de Rezar a vida, de Paulo Duarte, SJ:

"O papa Francisco fala e recorda muitas vezes a família, pela sua importância estrutural na sociedade (...) As famílias devem ajudar as pessoas a crescer por si mesmas, com sentimento de pertença, sim, mas, sobretudo, vivendo com aquilo que são. Só assim as pessoas crescem individualmente mas também com um sentido comunitário, de que são unos e parte de um todo maior, composto por todos nós, e onde, juntamente, somos chamados a ser e fazer parte. 

É também com a ajuda das famílias que aprendemos a identificar e conquistar o nosso lugar no mundo. Não o lugar que a família nos destina, aquele que seguimos por destino ou tradição, mas aquele que nos cabe por vocação, missão e paixão. Nós não podemos ser reduzidos ao que fazemos, mas o que fazemos tem muito de nós.

Assistimos hoje a uma quebra dos laços familiares, por um lado, e a uma abertura do conceito de família, por outro.  
Em sentido positivo, as famílias alargam-se porque encontram lugar para novos laços. 
As novas relações dos casais que se divorciam, os filhos que, entretanto, nascem e passam a ter irmãos que vieram antes, as famílias que, na melhor das hipóteses, se fundem e passam a ser uma só. 
Num sentido negativo, e durante os anos em que fui professor, pude assistir a uma desagregação dos laços entre pais e filhos, em muitos casos mantendo o lado funcional do amor, mas obliterando o gesto, o toque, o abraço. No fundo, a linguagem universal do afecto.

Portanto, sim, é importante a Igreja apoiar o indivíduo  mas é igualmente  importante trabalhar a família, para que possamos tomar consciência da responsabilidade que temos na relação uns com os outros. É na vida de todos os dias que isto se faz, na abertura da Igreja a todos, porque o quotidiano fala muito mais  do que imaginamos. A vida faz-se muito mais dos pormenores do que dos grandes temas."

segunda-feira, 30 de março de 2020

Rezar a um Deus que dança! (II)

Na sequência do post de ontem e nesta Segunda-feira em que muitos estamos em teletrabalho, confinados às quatro paredes da nossa casa, mas igualmente a braços com toda a dinâmica doméstica
...acrescida, porventura, da gestão de filhos de idades diversas (cada um com as suas necessidades), pareceu-me oportuna esta Oração do Tempo que surge na página 67 do livro Um Deus que dança, do Cardeal Tolentino Mendonça


"Senhor, de todas as perguntas com que Tu me deixas, há uma que cresce dentro de mim: «que fazes do teu tempo?» 
Sabes, perco-me nas tarefas, nas voltas a dar, nesta e naquela responsabilidade, num imprevisto...e  no meio disto tudo, confesso, o tempo da minha vida assemelha-se mais a uma fuga que a uma sementeira.
Hoje queria pedir-te que me desses a sabedoria de viver e de repartir o meu tempo. Ajuda-me a realizar o meu trabalho e o meu lazer, o meu esforço e a minha pausa como tempos de dádiva e de encontro. Como tempos que não sejam apenas tempo, mas circulação de vida, de entusiasmo, de criação e de afecto".

domingo, 29 de março de 2020

Rezar a um Deus que dança! (I)

A Quaresma começou há 33 dias...
Há já 15 dias que estou em isolamento social (salvo as duas ou três saídas que foram necessária,s mas tão rápidas e asséticas quanto possível)... 
E de hoje a 15 dias será Domingo de Páscoa!

E neste domingo, Dia do Senhor, dei por mim a pensar que se (pessoalmente) já estava a ter uma Quaresma atípica, no meio da estranheza destes dias a coisa não melhorou. 
Tem-me faltado (por incrível que possa parecer) esse tempo de paragem, de oração...não necessariamente uma oração ritual..mas aquele tempo em que verdadeiramente desligo da azáfama do dia a dia... para me ligar a algo maior.

Por isso, até Domingo de Páscoa vou partilhar convosco pequenos trechos de um destes dois livros que me vão ajudar a mim (e a quem mais queira) a rezar nesta quinzena que antecede a festa maior da PÁSCOA:  
Um Deus que dança do Cardeal José Tolentino Mendonça 
e Rezar a vida do sacerdote jesuíta Paulo Duarte.
  
*
Hoje, deixo trechos da Introdução de Um Deus que dança

Um Deus que Dança – Post-It Literatura"Nietzshe deixou escrito que só acreditaria num Deus que dance. Humildemente apetece-me ajuntar: eu também. De facto, aquilo que parece ser apenas um severo emblema de negação, pode tornar-se em fórmula para segredar a crença. 
Acredito num Deus que dança: isto é, num Deus que não se isenta do devir, nem permanece neutral às nossas histórias. Acredito num Deus imiscuído, engajado, detectável até pelo impreciso radar dos sentidos, susceptível de ser invocado pelos motores de busca das nossas persistentes interrogações ou do nosso silêncio (...) 
A oração não se constrói de palavras, mas de relação. Não são as palavras o mais importante, mas a celebração de um encontro (...) Vital na oração é mesmo a experiência do encontro. As palavras são apenas o assobio que anuncia os passos do viandante que chega ou que parte..."
 

sexta-feira, 27 de março de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXXVII

"Simple song" é a escolha de hoje. 
Porque canções simples como esta, de Passenger, têm a capacidade de iluminar (ainda que temporariamente) estes dias ...


(...) Well I know it's far from simple
But simple ain't worth worrying about
Hey I know, I know
It's time to go
I think I keep on finding everything seems to be about timing
Here's a simple song (...)

quinta-feira, 26 de março de 2020

Coronavírus

Há mais de dez dias em casa (salvo duas saídas para ir ao supermercado) e ainda não me tinha apetecido escrever sobre toda esta situação. 

Fui partilhando no FB uma ou outra mensagem que achei mais pertinente, um ou outro vídeo, uma ou outra ação das muitas que - felizmente- a criatividade humana motiva nestas circunstâncias: multiplicam-se os diretos de música; as ideias para dar aso à veia artística ou ao "chefe" de cozinha que há em nós; os agradecimentos a profissionais de saúde e a todos aqueles que vão mantendo o país em movimento; apelos criativos a que fiquemos em casa em prol de dias melhores para todos (com a publicidade a dar cartas);  relatos, ao jeito "Diário de bordo", destes dias estranhos que vivemos e em que temos de nos adaptar a todo um "novo mundo"...  

 
Hoje, no dia em que o país entra na fase de mitigação, finalmente apeteceu-me trazer o assunto a este espaço que me acompanha há quase 12 anos. 

O vídeo que se segue foi o culpado...porque a ESPERANÇA é fundamental!


Aproveito ainda para partilhar estes textos que outros escreveram, caso tenham paciência de os ler (tempo não nos faltará!): 

 https://coconafralda.sapo.pt/estado-de-emergencia-2487728

 https://agatachristie.blogs.sapo.pt/a-tele-escola-feita-a-pressao-467264

 https://www.facebook.com/duarte.baiao.5/posts/3012111498841311 

https://www.facebook.com/paiscompgrande/posts/2545119799062943?__tn__=K-R


E ainda este vídeo:https://bit.ly/2WAaoDB


E não se esqueçam:
FICAR EM CASA é a regra destes dias
...para que melhores dias possam chegar!

terça-feira, 24 de março de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir CXXVI


Curiosamente, só tinha até à data colocado uma música de Passenger no blogue, quando expliquei como a voz dele me envolveu desde a primeira vez que o ouvi...já foi há quase sete anos!
De vez em quando vou descobrindo uma ou outra música que me cativa mais mas, vá-se lá saber porquê, não partilhei por aqui.

Hoje, para compensar -e porque é um artista que de facto me agrada muito-
 não partilho apenas uma música, mas um álbum inteiro...foi a minha companhia sonora no teletrabalho de ontem:  
fiquem com "Whispers" de Passenger.


segunda-feira, 23 de março de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXXV

Esta é sem dúvida uma das músicas da minha vida...não me canso de a ouvir nas mil e uma versões que tem, algumas delas já apresentadas neste blogue ao longo dos anos

Neste início de semana deixo-vos esta maravilhosa interpretação  de McKenna Breinholt
com orquestra sinfónica e coro
...verdadeiramente divinal este "Hallelujah"!

 

sábado, 21 de março de 2020

O dia 21 de março...

O dia 21 de março deve ser das datas que mais efemérides assinala!

Durante muitos anos foi associado ao início da Primavera (que agora, às vezes, se antecipa...como foi o caso) e nomeado como Dia Mundial da Árvore (e/ou da Floresta).

 
Se fizermos uma pesquisa rápida ficamos a saber que este é ainda:

-  o  Dia Mundial da Infância (UNICEF);


 e o Dia Mundial da Poesia (UNESCO ).

 Tudo causas que nos merecem a maior das atenções e das ações!
 Mas é com um poema -de que gosto muito e que, de alguma forma, alude a algumas das fragilidades da nossa sociedade- que hoje celebro este dia tão especial: 
chama-se Testamento e é da autoria de Alda Lara
 para quem a poesia foi o último reduto das suas dores, lutas  e esperanças. 

" À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados   
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua..."

sexta-feira, 20 de março de 2020

Primavera

Ela chegou de mansinho, pelas 03h50 da madrugada,  e fez-se anunciar com chuva, um pouco por todo o país...aliou-se o início da estação à estranheza deste tempo que vivemos, mas do qual havemos de renascer em versão melhorada. 
E porque no segundo dia da Primavera se celebra -entre outras coisas- a poesia, é com um poema de Miguel Torga  que assinalo este Equinócio...
 
 Agora
Abre-te, Primavera!
Tenho um poema à espera
Do teu sorriso.
Um poema indeciso
Entre a coragem e a covardia.
Um poema de lírica alegria
Refreada,
A temer ser tardia
E ser antecipada.
Dantes, nascias
Quando eu te anunciava.
Cantava,
E no meu canto acontecias
Como o tempo depois te confirmava.
Cada verso era a flor que prometias
No futuro sonhado…
Agora, a lei é outra: principias,
E só então eu canto confiado.

terça-feira, 17 de março de 2020

ELIS

Elis Regina faria hoje 75 anos. 

A "Pimentinha" nasceu a 17 de março de 1945, em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul. 
Infelizmente teve uma vida curta, que terminou a 19 de janeiro de 1982.

A RTP 2 passou ontem à noite o filme ELIS...
um filme biográfico que nos dá a conhecer boa parte da vida daquela que foi considerada por muitos a melhor cantora popular do Brasil e até, para alguns, 
a melhor cantora brasileira de todos os tempos. 
Um dos momentos mais intensos do filme é Elis interpretanto este Cabaré...


(...) Nem aplausos, nem vaias: um silêncio de morte
Ah, quem sabe de si nesses bares escuros
Quem sabe dos outros, das grades, dos muros
No drama sufocado em cada rosto
A lama de não ser o que se quis
A chama quase morta de um sol posto(....)

domingo, 15 de março de 2020

A propósito destes dias....

Acreditando que vai ficar tudo bem, se todos fizermos  a nossa parte, vale a pena ler a reflexão da psicóloga italiana Francesca Morelli sobre o que estamos a viver: 


"Acredito que o Universo tem a sua maneira de equilibrar as coisas e as suas leis quando estão viradas do avesso. O momento que vivemos, cheio de anomalias e paradoxos, dá que pensar. Numa altura em que as alterações climáticas causadas por desastres ambientais chegaram a níveis preocupantes, primeiro a China e depois tantos outros países veem-se obrigados ao bloqueio. A Economia colapsa, mas a poluição diminui consideravelmente. O ar melhora; usam-se máscaras, mas respira-se.
Num momento histórico em que algumas ideologias e políticas discriminatórias, com fortes referências a um passado mesquinho, estão a reativar-se em todo o planeta, chega um vírus que nos faz perceber que, num instante, podemos ser nós os discriminados, os segregados, os bloqueados na fronteira, os portadores de doenças. Mesmo que não tenhamos culpa disso. Mesmo que sejamos brancos, ocidentais e viajemos em classe executiva.
Numa sociedade fundada na produtividade e no consumo, em que todos nós corremos 14 horas por dia na direção não se sabe muito bem de quê, sem sábados nem domingos, sem feriados no calendário, de repente chega o “parem”. Fechados, em casa, dias e dias. A fazer contas com o tempo do qual perdemos o valor. Será que ainda sabemos o que fazer dele?
Numa altura em que o acompanhamento do crescimento dos filhos é, por força das circunstâncias, confiada a outras figuras e instituições, o vírus fecha as escolas e obriga a encontrar outras soluções, a juntar a mãe e o pai com as crianças. Obriga a refazer família.
Numa dimensão em que as relações, a comunicação, a sociabilidade se processam principalmente no “não-espaço” do virtual, das redes sociais, dando-nos uma ilusão de proximidade, o vírus tolhe-nos a verdadeira proximidade, a real: que ninguém se toque, nada de beijos, nada de abraços, tudo à distância, na frieza do não contacto. Até que ponto dávamos por adquiridos estes gestos e o seu significado?
Numa altura em que pensar no próprio umbigo se tornou regra, o vírus envia uma mensagem clara: a única saída possível é através da reciprocidade, do sentido de pertença, da comunidade, do sentimento de fazer parte de algo maior, de que cuidamos e que pode cuidar de nós. A responsabilidade partilhada, o sentir que das nossas ações depende não apenas o nosso destino mas o de todos os que nos rodeiam. E que dependemos das deles.
Por isso, deixemo-nos da caça às bruxas, de perguntar de quem é a culpa ou porque é que tudo isto aconteceu, e perguntemos antes o que podemos aprender com isto. Creio que temos todos muito para refletir e fazer. Porque para com o Universo e as suas leis, evidentemente, temos uma grande dívida. Explica-nos o vírus, com juros muito altos.”

terça-feira, 10 de março de 2020

Há músicas (muito) boas de ouvir! CXXIV

"Chamateia" é a escolha de hoje: um poema de António Melo Sousa com composição musical de Luís Alberto Bettencourt que fez parte da banda sonora de "Balada do Atlântico",  
um programa da RTP-Açores (1987 ). 
Um quarto de século depois, o alentejano António Zambujo interpretou esta balada açoriana com o coro feminino búlgaro Bulgarian Voices Angelite...a prova de que a música é uma linguagem verdadeiramente universal! Ouçam bem a beleza destas vozes...


( E, já agora, se quiserem saber um pouco mais sobre a "Chamateia" deixo-vos este artigo.)

sexta-feira, 6 de março de 2020

Este fim de semana...

Este sábado, no concelho de Peniche temos:

- na RABECA, das 13h00 às 15h00, há Aulas de Desenho;


- Oficina de costura com a tua máquina,no Peniche Hostel Backpackers, das 14h30 às 18h30;

 

- o primeiro dos Recitais Didáticos de Piano que a Academia de Música Stella Maris fará nos próximos meses: o de amanhã será dedicado ao Período Barroco e terá lugar às 17h00, na Igreja da Misericórdia.

 

Se ainda não conheces o LARGO,  amanhã também é um bom dia para o fazeres...ficas a conhecer o espaço e os Largonautas e dás uma mãozinha no UPGRADE.  

*

À noite, se gostares do género, Rodrigo Leão apresenta-se no Grande Auditório do CCC com "O método". Será às 21h30.

 

E já que falamos em CCC, aqui fica também uma proposta para domingo, para toda a família: às 16h00 a Companhia S.A. Marionetas apresenta "A Viagem de Sofia".

 

Na Lourinhã, o fim de semana também é particularmente dedicado aos mais pequenos:

- há Poesia para bebés amanhã, na Biblioteca Municipal;

e "Filminhos infantis à solta pelo país" à solta. 

Para fechar o fim de semana em beleza e porque domingo celebra-se o Dia Internacional da Mulher, junte-se  a uma boa causa e assinale a data com um Jantar Solidário com a Liga Portuguesa contra o Cancro.


BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS! 

segunda-feira, 2 de março de 2020

"Fevereiros" em março

Agora que já estamos em março e o Carnaval também já lá vai, não deixem de ver este "Fevereiros".
Passou na RTP 2 no  sábado passado por volta das dez da noite e está disponível aqui. 

Imperdível para os fãs de Maria Bethânia e aconselhável a todos os que amam a arte, a cultura brasileira, a humanidade em geral, com toda a sua riqueza e complexidade...pouco mais de uma hora com tanta coisa bonita dentro, que só vendo...


"A música é a língua materna de Deus!"...é apenas uma das frases que ecoa e que nos deixam a pensar depois de ver este documentário. Este texto explica bem porquê. 
Na verdade a frase não é de Bethânia mas sim de Mia Couto -outra referência da lusofonia - e pertence à sua obra "Sombras da água", que infelizmente ainda não está publicado em Portugal.*

* PS- Depois de uma pesquisa mais apurada entendi que "Sombras da água" em Portugal é 
"A Espada e a Azagaia", o livro 2 da triologia que começou com "Mulheres de Cinza" e terminou com "O bebedor de horizontes".