Um dos meus poetas favoritos - António Gedeão - foi hoje postumamente condecorado pelo Presidente da República no decurso de uma homenagem feita pela Junta de Freguesia de Campo de Ourique, zona de Lisboa onde viveu 40 anos.
António Gedeão - ou Rómulo de Carvalho (como verdadeiramente se chamava) morreu há 20 anos mas a sua poesia continua desafiante e atual.
Deixo-vos com "Minha aldeia", um dos seus muitos poemas:
"Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.
que a todo o mundo pertence.
Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.
Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.
Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que emergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia."
(Teatro do Mundo, 1958)
PS_Os que tiverem paciência e quiserem saber mais do poeta/professor podem ler este artigo do Observador.