quinta-feira, 27 de julho de 2017

Leituras

O livro  já e de 2008 mas só ontem dei por mim a ler o seu prefácio. Da autoria de Eduardo Sá, intitula-se "Sete coisas que deves ser depois de crescer". 
Aqui fica transcrito (quase na totalidade) para que possa fazer eco noutros crescidos, como fez em mim: 
 "(...) As pessoas, quando crescem, parecem reflectir-se tanto que se anulam umas às outras, não é? E, se for assim, ser irreflectido talvez seja das primeiras coisas que se deve ser depois de crescer.  
A segunda, só possível quando não se reflecte muitas vezes, é não deixar de crescer (e perceber que o frenesim que faz arrepios no coração é, não uma prova de que se está em crescimento, mas sinónimo de que nunca se desiste de aprender). 
A terceira é ser ingénuo, que só se atinge quando se é sábio (nunca por ser crédulo) e se conservou no olhar um promontório de onde, com delicadeza, se vê o mar um pouco mais além da curva que o horizonte, por teimosia, insiste em ter. 
A quarta, perceber que todos nascemos humanos, mas, seja pelo que for -por descuidos, por desamparos ou pelo sofrimento de todos os dias, que nos torna agrestes e violentos-, raramente, ao morrermos, seremos assim. 
A quinta, descobrir -pela vida dentro- que amar é dizer eu e tu ao mesmo tempo; e aceitar que, se as pessoas que (presumivelmente) nos amam não sabem mais de nós do que nós próprios, é porque vivem indiferentes à nossa infelicidade. 
A sexta -que tão bem podia ser a primeira, ou outra que fosse-  passa por reconhecer que ao mentir nunca se encontra o caminho, de volta, para casa. Mas que, apesar disso, mentir não é vergonha. Na verdade, muitas pessoas, porque imaginam que crescer é ser imenso, transformam-se em barcos sem marés, e vivem com vergonha a distância entre os horizontes que sonham para si e aquilo que, entretanto, transformaram em gestos, pegadas ou palavras. É a vergonha de si que as empurra para a mentira. E para a pior das mentiras, até, que será -suponho eu- o silêncio (quando, em vez de um segredar com os olhos, se desfaz em bruma, simplesmente). 
A sétima, e a melhor: reconhecer (o que só é possível quando já se descobriu que errar é aprender)..."

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