segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Centenário de Vinicius

Se não tivesse falecido a 9 de julho de 1980, na cidade que o viu nascer, o carioca Vinicius de Moraes teria celebrado, no passado sábado, 100 anos de vida. Mas 66 anos chegaram-lhe para ser muito mais que um menino do Rio...foi diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor. Viveu fora do Brasil algumas temporadas, fez amigos em vários cantos do mundo e estabeleceu parcerias com diversos artistas. Casou nove vezes e foi pai de cinco filhos (a mais velha, Suzana, fala sobre ele aqui. )
É comummente conhecido como o autor de "Garota de Ipanema" mas foi muito mais do que isso, deixando poemas e composições de rara beleza (algumas das quais já tenho partilhado por aqui). Para conhecer um pouco mais da vida e obra do Poetinha, como também ficou conhecido, podem clicar aqui.   
O próprio definiu-se assim*:
 
"Nome: Vinicius. Por que?
O quo vadis, saindo em 13
Ano em que também nasci.
Sobrenome: de Moraes
De Pernambuco, Alagoas
E Bahia (que guardo em mim).
Sou carioca da Gávea
Bairro amado, de onde nunca
Deveria ter saído.
Fui, sou e serei casado
E apesar do que se diz
Não me acho tão mal marido.
Filho: três e um a caminho
Altura: um metro e setenta
Meão, pois. O colarinho
Trinta e nove e o pé quarenta.
Peso: uns bons setenta e três
(Precisam ser reduzidos...)
Dizem-me poeta; diplomata
Eu o sou, e por concurso
Jornalista por prazer.
Nisso tenho um grande orgulho
Breve serei cineasta
(Ativo). Sou materialista.
Deito mais tarde do que devo
E acordo antes do que gosto.
Fui auxiliar de cartório
Censor cinematográfico
Funcionário (incompetente)
Do Instituto dos Balcários.
Atualmente sou segundo
Secretário de Embaixada.
Formei-me em direito, mas
Sem nunca ter feito prática.
Infância: pobre mas linda
Tão linda que mesmo longe
Continua em mim ainda.
Prefiro vitrola a rádio
Automóvel a trem, trem
A navio, navio a avião
(De que já tive um desastre).
Se voltasse a vida atrás
Gostaria de ser médico
Pois sou médico nato.
Minhas frutas prediletas
Por ordem de preferência:
Caju, manga e abacaxi.
Foi com meu pai, Clodoaldo
De Moraes, poeta inédito
Que aprendi a fazer versos
(Um dia furtei-lhe um
Para dar à namorada).
Tinha dezenove anos
Quando estreei com meu livro
“O Caminho para a Distância”
Meu preferido é o último:
“Poema, Sonetos e Baladas”.
Toco violão, de ouvido
E faço sambas de bossa
Garoto, lutei “jiu-jitsu”
Razoavelmente. No tiro
Sobretudo em carabina
Sou quase perfeito. As coisas
Que mais detesto: viagens
Gente fiteira, fascistas,
Racistas, homem avarento
Ou grosseiro com a mulher.
As coisas que mais gosto:
Mulher, mulher e mulher
(Com prioridade a minha)
Meus filhos e meus amigos.
Ajudo bastante em casa
Pois sou bom cozinheiro
Moro em Paris, mas não há nada
Como o Rio de Janeiro
Para me fazer feliz
(E infeliz). Desde os sete anos
Venho fazendo versinhos
Gosto muito de beber
E bebo bem (hoje menos
Do que há dez anos atrás).
Minha bebida é o uísque
Com pouca água e muito gelo.
Gosto também de dançar
E creio ser esta coisa
A que chamam de boêmio.
Em Oxford, na Inglaterra
Estudei Literatura
Inglês, o que foi
Para mim fundamental.
Gostaria de morrer
De repente, não mais que
De repente, e se possível
De morte bem natural.
E depois disso, ao amigo
João Conde nada mais digo."

*poema "Auto-retrato", de Vinicius de Moraes, 1953

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