terça-feira, 10 de outubro de 2017

Esse objeto mágico chamado livro!


O "L" deste meu A.B.R.I.L. é dedicado às letras mas, vistas bem as coisas, tenho escrito pouco sobre o tema.  
Por isso, hoje, partilho aqui um artigo sobre livros e leituras, que escrevi (literalmente) há meia dúzia de anos para a revista PAIDEIA, editada pela Escola Secundária de Peniche
Aviso desde já que é um post longo, para compensar a ausência dos últimos dias :) Espero que gostem...

"Foi-me pedido que escrevesse um artigo que falasse de livros, de um livro que tivesse lido e aconselhasse.

É certo que ao longo da vida já foram muitos os livros lidos (embora haja, de longe, quem leia muito mais do que eu); que o meu contacto com eles é diário, até pela profissão que tenho; e não há dúvida que adoro livros….mas escolher um é tarefa quase impossível! Por isso, optei por escrever sobre a minha relação com os livros e como este objecto me encanta.

Desde que me lembro, que gosto de livros. Na infância eram os contos tradicionais em livros de papel e de pano (daqueles com as folhas recortadas), a “Anita” (de que recordo particularmente os títulos “Anita no ballet” e “Anita e a festa das flores”) e pouco mais.

Depois vieram “Os cinco” (de Enid Blyton) e a “Patrícia” (de Julie Campbell) com os seus mistérios por resolver e consequentes aventuras.


Neste entretanto, muitos dos desenhos animados que me encantavam eram também personagens literárias: caso de Tom Sawyer (da obra de Mark Twain) e dos três mosqueteiros (do livro homónimo de Alexandre Dumas) …mas julgo que, na altura, não tinha consciência disso. Lembro-me ainda de ter lido, com estas idades, “A princesinha” de Frances Hodgson Burnett, uma história sobre as reviravoltas que a vida por vezes dá e a importância que tem a forma como as encaramos.

Nesta fase já frequentava a Biblioteca Municipal e Calouste Gulbenkian sediada no Largo do Município e era aqui que encontrava sempre bons e novos motivos de leitura. Foi assim que, durante a adolescência, “dei de caras” com Miguel Torga (e os seus diários), António Alçada Baptista, David Mourão-Ferreira e Vergílio Ferreira, quatro autores portugueses de quem li muitos textos no início da juventude. Começou também aqui a minha relação preferencial com os autores latino-americanos, nomeadamente Gabriel Garcia-Marquez e Isabel Allende.

A par dos livros, surge o interesse por outro tipo de leituras -a de jornais e, sobretudo, de revistas. Nesta fase não dispensava a leitura do Sete, semanário cultural com artigos sobre cinema, música e teatro, que saía às quintas-feiras!

E é ainda nesta fase que descubro a beleza da poesia: para além de Torga e Mourão-Ferreira, encontro António Gedeão, Florbela Espanca, Fernando Pessoa e José Gomes Ferreira.

Sendo aluna de humanísticas fizeram parte do rol de leituras obrigatórias, no Secundário, entre outras: “Os Maias”, do Eça, que gostei bastante de ler; “As viagens na minha terra”, de Garrett; e “Eurico, o presbítero”, de Alexandre Herculano, que confesso não ter conseguido ler!

Durante a Faculdade marcou-me particularmente um livro, sugerido pelo Prof. Jacinto Godinho: “A vida depois de Deus” de Douglas Coupland -o autor do célebre “Geração X”-  um livro com uma estrutura “leve”, quase em jeito de diário, com pequenas mas profundas reflexões sobre a vida, a morte, o amor, o dia-a-dia…

De há uma dúzia de anos a esta parte, tantos quantos os de trabalho na Biblioteca, muitos são os livros e autores que se têm cruzado no meu caminho. Pessoalmente, gosto de reler os autores que já citei acima e fui descobrindo outros que me dão prazer ler, como é o caso da italiana Sveva Casati-Modignani, do francês Guillaume Musso ou da portuguesa Rosa Lobato de Faria, entretanto falecida.

Gosto destes autores, como outras pessoas gostam de Nora Roberts, Nicholas Sparks, Jodi Picoult, Philippa Gregory ou Ken Follett, só para citar alguns dos escritores mais procurados na Biblioteca.

Tenho vindo também a descobrir um outro mundo maravilhoso que é o da literatura dita “para a infância”, mas que habitualmente tem o condão de encantar “miúdos e graúdos”, com obras manifestamente interessantes ao nível do texto e da ilustração.

E por mais dias que passem, e livros que me passem pelas mãos, nunca me canso de ler, de querer estar a par das novidades editoriais, de leituras diagonais também…que o tempo não estica e não dá para ler tudo aquilo que por um ou outro motivo gostaria de ler. Porque, se até agora, tenho falado essencialmente de poesia e literatura de ficção, a verdade é que há livros sobre tudo. Livros sobre arte ou ciências aplicadas, livros sobre jardinagem ou trabalhos manuais, livros de cozinha, de psicologia, de desporto, de história. Livros que nos ensinam, que nos divertem, que nos guiam, que nos elucidam sobre este ou aquele assunto. Livros que contam vidas –as chamadas biografias, que também gosto particularmente de ler- e inspiram outras tantas vidas!

E há livros com som, livros com cheiro, livros com texturas, livros em pano, papel ou plástico, livros interactivos…


Na verdade é-me difícil imaginar a minha vida sem livros e julgo que o próprio mundo não seria o mesmo sem este objecto. A propósito, recordo uma colecção de livros, recentemente lançada com o jornal Público, intitulada Livros que mudaram o mundo: conjunto de 20 livros do qual faziam parte títulos como “A Ori­gem das Espé­cies” de Darwin, a “Bíblia”, “O Contrato Social” de Rousseau ou o “Alcorão”.

Livros e leitura…um tema que daria “pano para mangas” que é como quem diz muitas linhas mais… Mas, para não cansar o leitor, fico-me por aqui. Espero, pelo menos, que este texto tenha servido para motivar outras tantas leituras, sobre as quais não há que fazer juízos de valor, como tanto gosta uma certa elite intelectual. O que verdadeiramente importa é ler! Porque ler é não estar só, é aprender, é saber, é viajar, é imaginar, é criar…é tantas coisas quantas os leitores quiserem que seja. Não temo o seu desaparecimento, porque acredito que nenhuma nova tecnologia tem o condão de o substituir, ou não fosse o livro um objeto mágico: poderoso, encantatório, belo e transformador!"

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