segunda-feira, 4 de abril de 2016

Regina e a Rua das Rimas

Regina Duarte - a atriz brasileira que, para a minha geração, será sempre Porcina, de "Roque Santeiro" - foi a entrevistada de Daniel Oliveira no "Alta Definição" de sábado passado. 
Entre as muitas coisas interessantes que disse ao longo da entrevista, destaco dois aspetos que me são mais caros: a importância que dá aos livros e à leitura e a declamação do poema "A Rua das Rimas", de Guilherme de Almeida (porque dos muitos poemas que já disse, este é o único que sabe de cor...e de que maneira!). Deixo-vos com a entrevista toda, porque vale a pena. Mas, se apenas quiserem ouvir o poema, saltem para o minuto 15:35, aproximadamente.




A RUA DAS RIMAS
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino
pequenino
é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita, perfeita,
com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e 

varais nos quintais;

e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,
douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as 
calçadas;
e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço baço e lasso;
e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,
mas brando e brando, soltando, de vez em quando,
na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do 
arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio,
junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões;
e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata...);
e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio...
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino 
pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher 
que bem me quer
é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calças nuas,
correndo paralelamente, como a sorte diferente de toda gente, 
para a frente,
para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito,
bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade, liberdade, tranquilidade: RUA DA FELICIDADE...

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