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A verdade é que, não retirando importância ao fogo que consome floresta, ameaça povoações e muda radicalmente a vida de tantos para pior, o que verdadeiramente me aflige no meio disto tudo:
- é o "chico-espertismo" que tem sempre opinião sobre tudo;
- é o "treinador de bancada" que faria sempre melhor que o treinador em campo;
- é o jornalismo de dedo em riste, sempre à procura de culpados (sejam eles os bombeiros, a proteção civil, o governo, as autoridades militares, as autarquias...) e de escândalos para explorar no meio deste "negócio" que é o fogo. O jornalismo pode e deve contar histórias, pode e deve dar voz às populações, pode e deve esclarecer. Mas não deve inventar histórias e questões onde elas não existam, nem potenciar comportamentos de instabilidade e revolta que nada acrescentam...não há necessidade de "mais achas para a fogueira!";
- é a falta de sensibilidade e respeito por aqueles (populações, bombeiros, militares, policiais, voluntários...)que sofrem as consequências no terreno;
- é a força da natureza e a forma como tantas vezes a ignoramos, descurando o cuidado e a atenção que lhe devemos. Com a natureza não se brinca!
- é a força da natureza e a forma como tantas vezes a ignoramos, descurando o cuidado e a atenção que lhe devemos. Com a natureza não se brinca!
Não tenho soluções para o problema dos fogos! Ouço muitas opiniões e parece-me que este é um problema que vai levar ainda muito tempo a resolver. Mas há dois ou três aspetos que me parecem evidentes:
- independentemente da prevenção em geral (limpeza das matas, do tipo de árvore escolhida para plantar, das faixas de segurança, etc, etc...),há um factor incontornável que deve ser tido em conta e levado muito a sério: as alterações climáticas a que assistimos não podem ser ignoradas. Ontem já era tarde para tentarmos inverter comportamentos que as potenciam. E este não é um fenómeno português. Vejam-se os casos da Califórnia, da Grécia, da Suécia ou de Espanha (só para referir os mais recentes);
- posso agora perguntar: e é o facto do tempo estar particularmente quente que ateia um fogo? Diz-me o senso comum que não...mas os media parecem dizer que sim com todos os seus alertas laranja e vermelho, martelando constantemente a ideia de que a subida da temperatura implica fogo à vista! Quando ouço estes alertas insistentemente repetidos penso imediatamente: lá estão eles a dar ideias a pirómanos e a justificar-lhes a ação;
- o terceiro aspeto é exatamente esse: o fogo posto! Sabemos que a grande maioria dos fogos começa assim! É a natureza humana no seu pior: seja por patologia, seja por interesses económicos (que também sabemos, nesta indústria são pródigos). Que fazer? Penas mais pesadas para os incendiários? Vigilância mais apertada das florestas?..;
- se é verdade que não é o facto de a temperatura estar elevada um factor só por si suficiente para originar um foco de incêndio, sabemos que condições climatéricas que agreguem calor, pouco humidade atmosférica e ventos fortes são o melhor rastilho para potenciar reacendimentos e dificultar o combate às chamas;
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Não me parece, de todo, que o constante inquisição por parte dos media e o aproveitamento político destas questões faça algo em prol da eficácia e eficiência no terreno. Perdoem-me os que têm um espírito crítico mais aguçado ou interventivo...mas eu não consigo, nem quero! A verdade é que este não é um problema meramente nacional. Mesmo quem tem meios, muitos anos de experiência e milhares de profissionais (não falamos de voluntários) tem imensas dificuldades. Veja-se,mais uma vez, o exemplo da Califórnia.
Para quem não tem opinião formada, nem soluções para o problema, pode parecer que já escrevi demais.
Falta-me uma palavra de reconhecimento e gratidão para todos os que de forma voluntária ou profissional dão o melhor de si nestas circunstâncias dramáticas e uma palavra de coragem e esperança para todos aqueles que, direta ou indiretamente, sofrem as consequências desta tragédia.
E deixo-vos ainda com a sugestão de leitura deste artigo (que vai de encontro ao jornalismo que gosto de ler) de Ricardo J. Rodrigues, do DN, que no parágrafo final diz isto:
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Esta noite há centenas de homens exaustos a travarem um combate que tarda em ver vitória. E isso pode muito bem ser uma lição. A humanidade bem pode prevenir-se contra os estragos, mas nunca conseguirá dominar totalmente a Natureza."
(...ainda que pouco otimista, parece-me a forma certa para concluir.)
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