segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Gedeão


Um dos meus poetas favoritos - António Gedeão - foi hoje postumamente condecorado pelo Presidente da República no decurso de uma homenagem feita pela Junta de Freguesia de Campo de Ourique, zona de Lisboa onde viveu 40 anos. 

António Gedeão - ou Rómulo de Carvalho (como verdadeiramente se chamava) morreu há 20 anos mas a sua poesia continua desafiante e atual. 


Deixo-vos com "Minha aldeia", um dos seus muitos poemas:


"Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo

com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

Bate o sol na minha aldeia

com várias inclinações.

Ângulo novo, nova ideia;

outros graus, outras razões.

Que os homens da minha aldeia

são centenas de milhões.

Os homens da minha aldeia

divergem por natureza.

O mesmo sonho os separa,

a mesma fria certeza

os afasta e desampara,

rumorejante seara

onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia

formigam raivosamente

com os pés colados ao chão.

Nessa prisão permanente

cada qual é seu irmão.

Valências de fora e dentro

ligam tudo ao mesmo centro

numa inquebrável cadeia.

Longas raízes que emergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia."

(Teatro do Mundo, 1958)

PS_Os que tiverem paciência e quiserem saber mais do poeta/professor podem ler este artigo do Observador.

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