Como muitos portugueses, ontem vi a final do Festival RTP da Canção. Gostei de todo o espetáculo, que foi para além do Festival e assinalou de várias formas os 60 anos da RTP, recordando acontecimentos e figuras que marcaram estas seis décadas de história.
Também gostei dos momentos musicais que evocaram outros festivais. A verdade é que sou do tempo em que o Festival da Canção parava o país, como grande evento anual que era, numa altura em que só havia uma estação televisiva.
Sei de cor a maioria das músicas vencedoras dos festivais pr'aí até 1996, ano em que por acaso ganhou Lúcia Moniz com "O meu coração não tem cor", até hoje a nossa melhor classificação na Eurovisão.
Ou seja: nos últimos 20 anos praticamente não vi o Festival e são duas ou três as músicas que sei identificar como vencedoras do mesmo ("Senhora das águas", de Vânia Fernandes; "Todas as ruas do amor" dos Flor-de-Lis e "A luta é alegria", dos Homens da Luta).
Este ano o caso mudou de figura e à garantia de qualidade assegurada pelo naipe de compositores escolhidos juntou-se a curiosidade. Vi as duas semi-finais e tinha as minhas preferências, como toda a gente. Confesso que na maioria das canções primeiro "estranhei" e só depois "entranhei" (ou seja: precisei de as ouvir mais do que uma vez para as apreciar devidamente).
- que é uma belíssima canção no que à melodia e letra dizem respeito;
- que cativa pela simplicidade;
- que é agradável de ouvir porque tem uma mensagem e um embalo bonitos, que nos prendem à história que conta e aos sentimentos que quer transmitir.
Dito isto, e ainda assim, não a elegeria como vencedora deste Festival precisamente por não a achar minimamente "festivaleira".
Perguntar-me-ão agora: "E o que é isso de ser festivaleira?" Para mim, uma música festivaleira é uma música com garra, com ritmo, com um refrão forte, "orelhuda"... E esta , apesar de muito bonita, não tem nenhum destes requisitos.
E o facto de ser festivaleira é garantia de um bom resultado na Eurovisão? Não! Já vimos que não! Por isso, quem sabe não teremos alguma surpresa com a ida do Salvador Sobral a Kiev? Às vezes, no meio do espalhafato musical que ultimamente tomou conta da Eurovisão, pode ser que a melodia portuguesa marque pontos pela diferença...e nos traga da Ucrânia o tão almejado prémio.Se é que isso é o mais importante! Se não é, e queremos apenas levar uma boa canção, considero que então estamos no bom caminho.
Ainda sobre os irmão Sobral, gostava de acrescentar que:
- não gosto da Luísa Sobral como intérprete (embirro solenemente com aquele tom meloso que ela tem) mas reconheço-lhe o talento como compositora;
- a interpretação do Salvador é um "pau de dois gumes": embora aprecie, em certa medida, aquele jeito quase infantil e meio louco de interpretar - e sinta que é mesmo genuíno e sinal de entrega à música- também acho que podia haver ali mais algum cuidado para que o ar não fosse tão desmazelado...e louco! Bem sabemos que está doente, e até foi recentemente submetido a uma cirurgia, mas isso não o impede de vir com um casaquinho passado a ferro e com o cabelo menos desalinhado. Dir-me-ão alguns: e isso que importa se a música é boa? Acreditem que importa!!! E não estou a pedir que ele deixe de ser quem é porque, como já disse, sinto que aquela forma de ser é genuína. Mas um bocadinho só de mais cuidado na apresentação não lhe faria mal;
-por último dizer que, como já perceberam, embora dispensasse a voz da Luísa Sobral, comoveu-me a cumplicidade com que partilharam a música -já depois de se saber que era a vencedora- e enterneceu-me o ar feliz dos outros compositores e intérpretes a concurso enquando assistiam a esta interpretação final (como se pode ver na foto que ilustra este post.
Dito isto, para mais informações, fiquem com este artigo do Público, onde podem ver e ouvir as outras canções a concurso, nomeadamente "Nova Glória" dos Viva la Diva e "Gente Bestial" do Jorge Benvinda (as minhas preferidas, dentro do género "festivaleiro").
E, claro, com a canção vencedora, "Amar pelos dois"...
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