segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

B.

Hoje só podia postar este "Os bonzinhos e os malvados".
Faço-o em homenagem a um amigo que tão bem dizia este poema (e outros) de Ary dos Santos. Dizia-o de forma visceral e acutilante, como lhe era próprio, e como o poeta (também ele um homem intenso, extremado e dono de uma fina ironia), certamente, o escreveu.
E porque o bem e o mal, e os bonzinhos e e os malvados desta vida, fazem parte desta luta incessante que todos os dias travamos, na esperança de encontrar o caminho certo, aquele que nos faça + felizes...
Infelizmente, nem sempre o conseguimos.Não é B.?

Dum lado os bonzinhos
com o seu ar sisudo
andando aos passinhos
dentro do veludo.


Do outro os malvados
cabelos ao vento
de fatos coçados
por bom e mau tempo.


Dum lado os bonzinhos
gordinhos, gulosos
comendo pratinhos
muito apetitosos.


Do outro os malvados
a ferrar o dente
em grandes bocados
de chouriço ardente.


Dum lado os bonzinhos
com muito cuidado
a dar beijinhos
com dia aprazado.


Do outro os malvados
a fazer amor
sem dias marcados
com frio ou calor.


Dum lado os bonzinhos
muito estudiosos
dizendo versinhos
em salões ranhosos.


Do outro os malvados
gritando na rua
que os braços estão dados
que a esperança está nua.


Dum lado os bonzinhos
metidos na cama
tomando chazinhos
molhando o pijama.


Do outro os malvados
os que dormem nus
sonhando acordados
com feixes de luz.


Dum lado os bonzinhos
batendo nos tectos
sempre que os vizinhos
são mais incorrectos.


Do outro os malvados
que fazem barulho
despreocupados
ao som do vasculho.


Devo ter por certo
os gostos trocados
detesto os bonzinhos
adoro os malvados.

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